quarta-feira, 15 de maio de 2013

União civil entre homossexuais


O Conselho Nacional de Justiça legalizou a união civil entre homossexuais. A Igreja é contra. E leva pedra de muita gente. Chamam-na de homofóbica, repressora, retrógrada, obscurantista, reacionária e hipócrita. Os católicos, aos poucos, vão se acostumando a apanhar e vão se habituando com o vocabulário que a sociedade bem pensante nos reserva. Mas, demagogia à parte, gostaria de reapresentar neste antigo texto meu o porquê do posicionamento da Igreja. Depois, o meu prezado leitor tire a conclusão que achar conveniente.

Vou dividir meu arrazoado em duas partes: uma, voltada para os que acreditam em Cristo e no seu Evangelho, principalmente os católicos; a outra, logo abaixo, voltada para todos, sejam ateus sejam não cristãos.  


"O Mestre, que amou sem impor condições, ensinou-nos que acolher o pecador é diferente de aceitar o pecado. Daí o desafio de atacar o pecado e acolher o pecador. Ou seja, desarmar o agressor com uma atitude de resistência pacífica, que quebre o círculo vicioso da agressão, da violência e do mal. A Igreja acolhe o pecador, seguindo os ensinamentos de Cristo. Os fariseus e os mestres da Lei criticavam Jesus: 'Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles.'” (Lc 15, 2). Jesus disse:“Assim haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão” (Lc 15, 7)."


Parte I 

Para os cristãos, é claro que a Igreja não pode aprovar a união civil de pessoas do mesmo sexo, sobretudo entre os seus filhos. A norma do cristianismo é a Sagrada Escritura e a Tradição que vem dos Apóstolos. Aí está conservada, geração após geração, a regra de vida dos discípulos de Jesus. Nós, cristãos, não podemos fazer o que queremos, não podemos instituir para nós mesmos um critério de bem e de mal, de certo ou de errado de modo independente e até mesmo contrário à norma do Evangelho. Para nós, Jesus é a Verdade, não uma verdade teórica, abstrata: ele é a Verdade em Pessoa; nele, o homem descobre sua própria verdade, descobre o que é bom para o ser humano, como ele deve ser para que se realize plenamente e qual o sentido dos seus sofrimentos e alegrias, dos conflitos e das realizações da humanidade. Jesus é o homem perfeito; nele o mistério do ser humano se revela; é Jesus quem revela o homem ao próprio homem! Esta é a fé dos cristãos.

Ora, as Escrituras, que dão testemunho de Jesus, nossa Verdade, afirmam que o caminho para a sexualidade humana é o caminho heterossexual: ``Homem e mulher ele os criou; à sua imagem ele os criou!`` Para nós, cristãos, a questão do gênero não é somente cultural: o masculino e o feminino são dois modos de realização do humano, dois modos reais e complementares. A variante homossexual não faz parte do desígnio original de Deus para a humanidade. A Escritura e a Tradição da Igreja condenam explicitamente a prática homossexual. Certamente muito do modo de exprimir-se da Bíblia neste particular é condicionado pela cultura semita. Mesmo assim, para além da linguagem e do modo de exprimir-se, existe uma condenação clara por motivos teológicos: homem e mulher ele os criou, um para o outro, um complementando o outro!  


Mas, então, por que há pessoas homossexuais? Que culpa têm elas ante Deus? A fé cristã também ensina que a humanidade, tal como se encontra hoje, é ferida pelo pecado, é uma humanidade doente. Todos nós, sem exceção, somos feridos; nenhum de nós é mais expressão daquela humanidade como Deus sonhou desde o princípio. Somente Jesus é o humano perfeito, a expressão plena da humanidade. Somente caminhando para ele, parecendo com ele, tornamo-nos plenamente humanos, tornamo-nos aquilo que devemos ser! Ora, essa ferida da humanidade manifesta-se de tantos modos: problemas de temperamento, problemas morais, problemas afetivos, problemas na área da sexualidade, problemas nas nossas relações sejam em nível pessoal sejam em nível social, problemas com nossos instintos e impulsos. Todos temos de dizer como o Salmista: ``Minha mãe já concebeu-me pecador!`` Aqui não é o caso de pensar que alguém é assim ou assado porque está pagando seus pecados. Nada disso: trata-se de uma situação geral de desarrumação na qual a humanidade se encontra. Ora, para nós, cristãos, a homossexualidade é uma das manifestações dessa desarrumação que fere e nossa humana condição. Nenhum homossexual tem culpa por ser homossexual, mas a homossexualidade não faz parte do plano de Deus para ninguém; é uma desordem moral.

Nós cremos também que, por ser pecadora, a humanidade sozinha não pode se encontrar e, por isso, o Pai enviou o seu Filho que por nós morreu e ressuscitou. Cremos que ele assumiu nossas dores, nossas angústias, nossos conflitos. Nós, cristãos, sabemos que somos chamados a completar na nossa carne o que faltou da paixão do Cristo Jesus. Então, um homossexual que seja cristão é chamado a procurar viver a castidade, isto é, a viver sua sexualidade conforme ao que Cristo propõe: a vida sexual na dimensão de sua expressão genital, erótica, isto é, do ato sexual, somente é lícita dentro do sacramento do matrimônio. E isso vale para todos, sem exceção! Que o leitor não faça cara de assustado! Essa sempre foi e sempre será a fé da Igreja, porque foi isso que ela recebeu de Cristo!

Certamente, tal proposta não é fácil para um homossexual! A Igreja sabe disso. Por isso mesmo, deve acompanhar seus filhos homossexuais com caridade materna, compreendendo-os, ajudando-os a viver o mais que puderem de acordo com o Evangelho. Os homossexuais, como os héteros, são capazes de uma vida virtuosa também no campo da sexualidade. E quando não puderem chegar a esse ideal? E quando decidirem assumir uma relação estável com alguém do mesmo sexo? A Igreja não deve nem pode desprezar tais filhos. Não dirá que eles estão corretos, mas vai sempre dizer que o Senhor os ama, que eles têm um lugar na Comunidade dos cristãos e que eles devem sempre esforçar-se ao máximo para ter uma vida digna, alicerçada em valores humanos e cristãos, como a sinceridade, a fidelidade, a doação, a decência... 


A Igreja não pode abandonar à própria sorte um filho seu pelo fato de ter uma vida homossexual ativa. Não dirá que eles estão corretos, mas também não os renegará nunca! Certamente, um cristão homossexual que tenha prática sexual, não deve confessar-se (a não ser que estivesse disposto a mudar de atitude) nem receber a comunhão eucarística. Mas, pode e deve, certamente, rezar, participar da Missa, participar de movimentos e atividades da Igreja, buscar conselho e orientação junto a um sacerdote. Pastoralmente, é uma situação análoga à dos casais em segunda união.

Um homossexual que seja um bom cristão – e há muitos! – não dirá: ``Eu tenho direito de comungar, eu tenho direito disso ou daquilo!`` Diante de Deus ninguém tem direito; tudo é graça! Amar o homossexual, compreendê-lo, acompanhá-lo, respeitar sua dignidade, sim; fazer a apologia da prática homossexual, nunca! A Igreja seria infiel ao seu Senhor. Assim, um homossexual cristão, que deseje manter-se em comunhão com Cristo e sua Igreja, jamais poderá dizer que a homossexualidade é tão válida moralmente quanto à heterossexualidade. A fé nos impede tal afirmação. E, quem não crê? Faça como quiser, já que seu critério não é o Cristo e sua Palavra.

Se é assim, por que, então, a Igreja é contra uma lei que una civilmente os homossexuais, mesmo que eles sejam não-católicos? O que ela tem a ver com isso? 

Parte II


Bom, até o presente momento expliquei por que a Igreja não pode aceitar que a homossexualidade tenha a mesma avaliação moral que a heterossexualidade. Expliquei que o projeto de Deus para a sexualidade humana, tal como revelado na Escritura Sagrada e conservado na perene Tradição da Igreja, é somente o caminho heterossexual. Isso é parte integrante da fé dos cristãos. Nunca é demais recordar que a Igreja não se faz a si própria nem norma de si mesma: aquilo em que ela crê e o seu modo de avaliar a realidade está sujeito à Palavra de Deus, contida na Escritura e na Tradição apostólica. Nem o Papa nem um concílio nem ninguém pode colocar-se acima do critério último de verdade salvífica. E esta verdade é Jesus, tal como apresentado na Escritura e na Tradição interpretadas com autoridade divina pelo Magistério.

Mas, por que a Igreja é contra o projeto de união civil entre homossexuais, já que este diz respeito também a não-cristãos e não-católicos? O que a Igreja tem a ver com não-católicos que desejem uma parceria reconhecida civilmente com os mesmos direitos de um matrimônio convencional? Trata-se de uma questão civil, cidadã, não religiosa... Não seria uma exorbitância da Igreja, velha bruxa sedenta de atanazar a felicidade alheia? Não! 


O problema é que a questão em pauta diz respeito a toda a sociedade, pois que envolve o conceito de família; e de modo muito prático. Por mais que se queira negar, a família é decisiva para a constituição e para a personalidade de uma sociedade. 

Destrua-se uma e a outra perecerá. Na história, em todas as civilizações a sociedade como um todo sempre tutelou e normatizou a instituição familiar. Na família, os valores são transmitidos, a vida é gerada e tutelada, a própria identidade de uma comunidade humana é forjada e passada, geração após geração.. Admitir um “casamento gay” legalmente reconhecido, seria esvaziar e diluir totalmente o que seja família; ela seria somente, como defendem alguns desastrados, uma união afetiva de pessoas! Aceitar tranquilamente uma união civil entre homossexuais e, posteriormente, o direito à adoção de crianças, seria o mesmo que redefinir totalmente o que seja família para nós. 

Nosso conceito tradicional, plasmado pela nossa cultura e que, por sua vez, plasmou também muito da nossa sociedade, desapareceria totalmente. Nossas crianças e as gerações futuras teriam uma consciência totalmente deturpada do que seria uma família! A família não mais teria nada de sagrado, de perene, de estável, de específico, sendo reduzida a uma associação qualquer. Não se pode brincar com uma coisa tão séria! Infelizmente, tudo quanto essa nossa sociedade hedonista toca, transforma em lixo! É óbvio, portanto, que essa questão não diz respeito somente aos próprios homossexuais, mas a toda a sociedade; não é uma questão priva, como muitos querem enganosamente fazer pensar... A família já anda tão desacreditada, tão bombardeada, tão desmoralizada... Faz-se a apologia da separação, dos ex-maridos e ex-esposas, dos filhos de pais separados. 

Recentemente, no dia dos pais, um jornal do nosso Estado estampou na primeira página: “Pais separados e felizes”. Ou seja: exalta-se o que se deveria procurar evitar! Por mais que haja separação entre religião e estado, no Brasil – e isso é bom -, o povo brasileiro é, na sua formação cultural e na sua imensa maioria, religioso e de profissão de fé cristã. Não se pode, então, impor uma inovação tão grave e deturpadora do conceito de família a toda uma sociedade por vontade de uma minoria.

Certamente, um “casal” homossexual que deseje viver “maritalmente” tem esse direito, desde que não imponha a toda uma sociedade a sua escolha. A Igreja reconhece que as pessoas que formam esse par têm direito, perante a lei, a benefícios análogos aos casais: aposentadoria do parceiro, plano de saúde, etc. Certamente, pode-se e deve-se encontrar meios legais de preservar tais direitos. O que não se deve aceitar de modo algum é que isso exija que se crie um casamento legal e, ainda mais, com a possibilidade de adoção de crianças! Sinceramente, é ridículo ver a união civil entre pessoas do mesmo sexo transformada num arremedo de casamento com véu, grinalda, marcha nupcial e bolo de casamento! Uma sociedade decente tem o dever de tutelar a família e as crianças. A questão é que nossa sociedade já há muito deixou de ser decente... Nossa sociedade é doente; doente do orgulho cego de uma humanidade que pensa que é a norma de si própria, o critério do bem e do mal!

Procura-se passar a ideia que a Igreja milita contra os homossexuais. Não é verdade. A posição da Igreja e seus motivos são os acima elencados. Há espaço sim para o diálogo. Mas o rolo compressor da mentalidade neo-pagã não deseja diálogo. A adoção por pares homossexuais será aprovada logo após e a questão da união homossexual continuará sendo tratada como algo que somente diz respeito aos dois interessados... A família, os valores e o cristianismo que se danem... 

7º Bispo Auxiliar de Aracaju

Adaptações e colaboração: Marcelo Petrelli


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